Já reparou que muitos discos de
estreia de um novo vocalista em uma banda é um disco diferenciado? Claro,
obviamente o disco vai soar diferente do que os anteriores por ter alguém novo
nos vocais, mas o que quero dizer é que não são só diferentes, mas um destaque
na carreira da banda, um sucesso com os fãs e a crítica e considerado um dos
melhores senão o melhor disco da banda em questão.
Nesse momento o caro leitor deve
estar pensando em alguns exemplos. Mas qual a razão disso? Será que existe algo
em comum nesses casos que explique esse fenômeno? Vamos analisar alguns casos
de discos que marcam a entrada de um novo vocalista em uma banda que já tem um
tempo na estrada, e verificar se existe alguma conclusão sobre isso.
The Number of the Beast – Iron
Maiden
Esse disco é não só um dos
maiores clássicos do Iron Maiden como está em qualquer lista de principais
álbuns da história do metal. Quando lançado em 1982, chegou ao primeiro lugar nas
vendas do reino unido e é o maior sucesso comercial da banda até hoje. The
Number of the Beast é o primeiro trabalho de Bruce Dickinson como vocal do
grupo, substituindo Paul Di'Anno.
Di'Anno que fora demitido da
banda, dentre outras razões, por seus problemas com drogas. Musicalmente, a
influência do punk que o antigo vocalista carregava foram deixadas de lado, e Steve
Harris adotou um enfoque diferente nas composições, aproveitando-se da voz de
Bruce Dickinson, que por sua vez, ajudou nas composição de algumas músicas do
álbum, embora não assine nenhuma delas. Ora, o grupo já tinha um reconhecimento
por seus trabalhos anteriores, mas com Dickinson eles alcançaram um novo
patamar, não que Paul fosse um mal vocalista, mas a voz e o estilo de Bruce
faziam ele o cara perfeito para estar ali.
Esse disco é a prova disso, canções
como "Children of the Damned", "Run to the Hills" e
"Hallowed Be Thy Name" sacramentaram o Iron Maiden como uma das
principais bandas da história.
Heaven
and Hell – Black Sabbath
Os anos de ouro do Sabbath tinham
passado e a situação com o icônico vocalista Ozzy Osbourne estava
insustentável. Após sua saída era preciso encontrar alguém que pudesse assumir
o vocal a altura e ajudar o grupo a voltar ao nível de qualidade de álbuns
anteriores, pois os dois últimos haviam sido altamente questionados.
Podemos tranquilamente dizer que
a resposta a essa questão saiu melhor do que a encomenda. Ronnie James Dio, ex-vocalista
das bandas Elf e Rainbow, assumiu os vocais e o resultado foi essa obra prima
do heavy metal, Heaven and Hell. Lançado em 1980, foi um sucesso de público e
crítica, levando o Sabbath de volta ao topo.
Nesse caso observamos o quanto o
novo cantor foi importante na criação do disco; Dio escreveu todas as músicas e
teve uma atuação memorável no vocal. Seu estilo deu uma cara nova a banda, foi
um refresco necessário a um grupo que precisava se reinventar. É importante
frisar a diferença na sonoridade da banda em comparação a era Ozzy, pois este
cantava como que acompanhando os riffs de Iommi, enquanto Dio tinha uma forma
diferente de cantar, o que influenciou os riffs que foram compostos em Heaven
and Hell.
O disco de estreia de Dio é
considerado um dos melhores da carreira da banda, e foi muito influente no
estilo nos anos seguintes.
The End of
Heartache – Killswitch Engage
The End of
Heartache é o terceiro disco de estúdio do Killswitch Engage e é considerado um
dos melhores e mais influentes discos de metalcore já feitos, assim como o
melhor da banda (fama essa dividida com o Alive or Just Breathing, que é o
preferido de outra parte dos fãs e crítica). Lançado em maio de 2004, tem a
estreia do vocalista Howard Jones que substituiu Jesse Leach (antecessor nos
vocais do Killswitch) a altura, com uma grande atuação assim como o resto dos
músicos.
Embora Howard
estivesse mais habituado a um tipo de metal mais sujo do que o som que o Killswitch
fazia, ele se adaptou muito bem ao novo estilo e foi importante no trabalho que
a banda fez em The End of Heartache. Ele foi bem recebido pela maioria dos fãs,
apesar de uma parcela não ter aprovado a mudança, parcela essa que deve ter
comemorado o retorno de Jesse Leach para a banda em 2012.
Queensrÿche – Queensrÿche
Entre 2012 e
2013 os fãs do Queensrÿche assistiam uma situação no mínimo inusitada; Com
brigas internas a banda não podia mais continuar unida, de um lado o vocalista Geoff
Tate, do outro os demais integrantes. O problema foi que os dois lados
reivindicavam o nome da banda.
Enquanto o imbróglio continuava, os dois grupos
que se intitulavam Queensrÿche lançaram discos no ano de 2013. O grupo formado
por Geoff Tate lançou o álbum Frequency Unknown, e os demais integrantes
convidaram Todd La Torre para assumir os vocais e lançaram o disco homônimo.
Queensrÿche
(2013) foi um disco extremamente elogiado pela crítica, e também agradou os
fãs. É considerado um dos melhores discos da banda, que desde os clássicos
Operation: Mindcrime e Empire não conseguia repetir seus momentos mais
inspirados. Os últimos discos com Tate inclusive são considerados
decepcionantes por boa parte dos fãs. O fato é que Todd La Torre foi uma excelente
escolha para vocalista e teve uma grande performance em seu primeiro trabalho
com o grupo.
O
direcionamento musical tomado com o disco homônimo agradou ao público; sabemos
que um dos motivos da saída do antigo vocalista eram as divergências em relação
ao som da banda, o que pode ser percebido ouvindo Frequency Unknown, um disco
bem diferente do lançado pelos antigos companheiros de Tate. Posteriormente os
envolvidos entraram em acordo e a versão oficial do Queensrÿche é formada hoje
por Michael Wilton Scott Rockenfield, Eddie Jackson, Parker Lundgren e Todd La
Torre.
Back in Black –
AC/DC
Após a morte de
Bon Scott o AC/DC precisava seguir em frente. Back in Black foi lançado em
julho de 1980, com Brian Johnson a frente dos vocais, e não é nada menos do que
um dos discos mais importantes para a história da música. Um sucesso colossal,
vendeu a quantia obscena de mais 51 milhões de cópias até hoje. É o álbum de
rock mais vendido de todos os tempos e segundo no geral, só perdendo para Thriller,
de Michael Jackson.
Substituir Bon
Scott não seria uma tarefa fácil mas Brian Johnson se provou mais do que
competente para manter o nível do vocalista anterior. Suas contribuições em
Back in Black ajudaram a banda a cumprir a também dificílima tarefa de manter o
nível astronômico de qualidade de seu disco anterior, Highway to Hell.
Não tem muito
mais a falar desse disco que todos já não saibam, é um clássico absoluto e o
maior exemplo dessa lista, com uma responsabilidade enorme o novo vocalista
cumpre as expectativas e a banda lança um disco muito elogiado que é um marco
para a carreira dos caras e para a história do rock.
Existem
exemplos de discos de estreia de vocalistas que marcaram bandas brasileiras,
como Rebirth, Seaquake e Depois da Guerra.
Rebirth – Angra
É verdade que
nesse caso não só o vocalista é novo como também metade da banda, mas Edu
Falaschi se mostrou um grande vocal e esse disco é realmente muito bom, foi bem
recebido pelo público, Nova Era e a música tema são clássicos da banda. A turnê
e o DVD tiveram grande repercussão, eu mesmo conheci a banda nessa época.
Seaquake –
Stauros
Com a saída Celso
de Freyn do Stauros, César assumiu o posto e em 2000 a banda lançou o excelente
Seaquake, um disco ainda mais técnico do que o anterior, primeiro trabalho do
grupo cantado em inglês, foi bem elogiado pela crítica e levou a banda a ser
conhecida também no exterior.
Depois da
Guerra – Oficina G3
Considerando o
melhor disco da banda e um dos melhores do metal nacional na década passada,
Depois da Guerra foi um marco na carreira do Oficina, a banda foi até premiada
com um grammy latino por esse álbum. Mauro Henrique substituiu Juninho Afram
como voz principal do grupo, é importante frisar que quando Henrique entrou
para a banda o disco já estava quase finalizado, porem ele ainda pôde
contribuir, inclusive trazendo a música incondicional para a banda, além de sua
grande performance no vocal.
Como já era de
se imaginar, não existe uma formula que justifique o disco de estreia de um
vocalista ser um marco na carreira do grupo, cada caso tem suas
particularidades. O fator novidade com certeza ajuda a alavancar as vendas, os
fãs querem saber como o grupo vai soar. Em cada exemplo vemos situações
diferenciadas, inclusive em momentos diferentes da carreira de cada banda, porem
a qualidade desses trabalhos é sempre algo a se destacar. De qualquer forma a
estreia de um membro tão importante para qualquer banda como o caso do
vocalista será sempre um acontecimento especial para o grupo para os fãs.
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